sábado, 19 de outubro de 2013

Texto da semana: Saia do coma

Eu gosto quando o vento bate forte e levanta poeira. Quando o barulho agressivo da chuva faz relaxar. Eu gosto de andar descalço e sentir-me livre. Gosto quando o riso adormece a barriga e emenda com a falta de ar. Eu gosto do cheiro de livros novos, de rabiscar meu autógrafo em páginas limpas e de ocupar todos os cômodos com música quando a casa está vazia. Mas se tem uma coisa que eu gosto mesmo, é de viver. Errando, aprendendo, apanhando, doendo, cicatrizando, refazendo, amando, me desarmando, envelhecendo, vivendo.

Às vezes, criamos em nossas cabeças uma ideia imatura de que tudo e todos estão contra nós. Que o mundo só consegue nos cumprimentar de costas e que sempre iremos ficar no lado esquerdo – e desagradável – das coisas. Quanto drama! Mas depois de algum tempo, uma das coisas que eu mais gosto, como já disse, vem. O vento. Ele traz consigo um aroma diferente e um arrepio de frio avisando que logo em seguida vem a chuva que lava o espírito e renova a alma. 

E aí, depois de algum pouco tempo, as coisas começam a melhorar, os sorrisos começam a se fazerem mais presente, pulamos para o lado direito, o mundo resolve nos dar a mão e percebemos que tudo aquilo que “estava contra nós” era apenas uma fase. Uma péssima fase. É que nós, seres humanos, não temos muita habilidade para ter paciência. E isso, sem dúvidas é bastante prejudicial.

Quem foi que disse que ninguém tem problemas? Quem é que nunca tomou um banho de lama? Quem nunca chegou ao seu destino e se lembrou que se esqueceu de algo importante? Quem nunca sofreu por amor, minha gente? Quem nunca chorou de tristeza, perda, angustia e medo? Quem nunca? Ninguém. Todos nós temos dias difíceis, o que muda é apenas a visão que cada um tem sobre o que é um dia difícil. 

Às vezes, esquecemos que doer faz parte de viver. Sentir dor é estar vivo. Sofrer é ser vulnerável ao aprendizado. Chorar é fazer uma limpeza na alma. Ter dificuldades é o incentivo à conquista, é ter sede de superação. Precisamos correr no chão liso para saber que esta atitude nos trará machucados. Precisamos quebrar o coração para sabermos o quão difícil e dolorido é recolocar no lugar os pedaços. Precisamos aceitar os nãos da vida para que os sins venham costurados com um “valeu a pena insistir” no futuro. É assim que funcionam as coisas.

Então, não permita mais se sentir uma vítima do mundo. Levanta daí, enxuga esse desperdício de lágrimas e vai apreciar o que a vida tem de melhor. Saia do coma. Deixa doer. Deixa arder. Se aparecer um nó na garganta, desamarra e põe para fora. Se o mundo te virar as costas, faça uma massagem nele. Converta o que é ruim para o que é bom. E quando não parece possível, tente. Não questione o que já foi decidido, tente mudar o que ainda está em planejamento. Você é o motorista da sua vida, logo, você só irá saber qual é o caminho certo após conhecer todos os caminhos.

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